sexta-feira, 2 de outubro de 2015

INSÓNIAS

Era uma vez um carneiro que tinha enorme dificuldade em conciliar o sono com a vontade de dormir. Depois de incontáveis horas perdidas no veterinário de família sem achar melhoras e graças aos bons ofícios de um primo lanífero, animal de largos recursos económicos de proveniência desconhecida e conhecimentos animais obscuros, conseguiu enfim, ser observado em consultório privado de um renomado especialista de doenças da inactividade. Afinal a cura era bem mais simples que o astronómico valor da consulta. Nessa noite, deitou-se e seguiu à risca o preceituado clínico. De patas no ar e de olhos bem fechados iniciou a contagem miraculosa: um homem, dois homens, três homens... e por aí fora. Adormeceu ao milésimo centésimo terceiro homem. E a coisa repetiu-se noite após noite até conseguir adormecer sem contar um único humano. Finalmente e pela primeira vez em alguns anos, levantou-se com a alegria estampada no focinho e defrontou com elevado desvelo o dia de árduo e sofisticado trabalho: o de pastar humanos lãzudos*. Agora sim; podiam contar com ele sem sombra de qualquer dúvida para as estatísticas do emprego. Da carneirada.

*Grosseiro, mal-educado.

Alberto Oliveira