sexta-feira, 2 de outubro de 2015

INSÓNIAS

Era uma vez um carneiro que tinha enorme dificuldade em conciliar o sono com a vontade de dormir. Depois de incontáveis horas perdidas no veterinário de família sem achar melhoras e graças aos bons ofícios de um primo lanífero, animal de largos recursos económicos de proveniência desconhecida e conhecimentos animais obscuros, conseguiu enfim, ser observado em consultório privado de um renomado especialista de doenças da inactividade. Afinal a cura era bem mais simples que o astronómico valor da consulta. Nessa noite, deitou-se e seguiu à risca o preceituado clínico. De patas no ar e de olhos bem fechados iniciou a contagem miraculosa: um homem, dois homens, três homens... e por aí fora. Adormeceu ao milésimo centésimo terceiro homem. E a coisa repetiu-se noite após noite até conseguir adormecer sem contar um único humano. Finalmente e pela primeira vez em alguns anos, levantou-se com a alegria estampada no focinho e defrontou com elevado desvelo o dia de árduo e sofisticado trabalho: o de pastar humanos lãzudos*. Agora sim; podiam contar com ele sem sombra de qualquer dúvida para as estatísticas do emprego. Da carneirada.

*Grosseiro, mal-educado.

Alberto Oliveira

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

TEXTO DE ENSAIO

 
 
Este texto de ensaio (não confundir com ensaio embora o autor não se ensaie rigorosamente nada de se abalançar a entrar por tão doutos caminhos da coisa escrita) não tem outro propósito senão o de preencher meia dúzia de linhas que não querem dizer absolutamente nada mas são o "pontapé de saída" para o início do mensagem com garrafa dentro. Assim sendo, quem por mero acaso passar por aqui, faça de conta que não leu o que acabou de ler. Sei que não é fácil esquecer o que escrevo. Mas façam um esforço; imaginem por exemplo que vivem num daqueles países do norte da Europa e que tudo, mas mesmo tudo, lhes corre tão bem na vidinha que até são capazes de fazer o sacrifício de uma viagem a Lisboa para abancar numa mesa guarnecida de iguarias fantásticas pelo preço da uva mijona. Não são capazes de imaginar isso?! Então vai ser difícil não se esquecerem do que escrevo.

Alberto Oliveira.